Faz tempo que eu estou para escrever essas linhas e não foi fácil começar, pois o Vale do Taquari, um dos mais férteis do mundo, possui uma rica história para contar. Mas como tudo precisa de um início, o meu será obviamente conduzido pela Erva-mate.
Encontrada em abundância no Vale do Taquari, a Erva-mate contribuiu para a colonização da região e posteriormente para a arrecadação de suas Câmaras Municipais, sendo entre 1850 e 1860, a maior fonte de arrecadação do Município de Taquari, cidade que leva o nome do importante rio que dá notoriedade ao nosso Vale.
A Erva-mate produzida aqui ajudou a ancorar a máquina administrativa e o exército da recém proclamada República Rio-grandense, forçando em 1836, a construção da primeira fábrica de Erva-mate do Município de Taquari, o que levou a região com o tempo a ser o primeiro polo produtor de Erva-mate. Vale ressaltar que a Erva-mate serviu como moeda de troca, por pólvora, armas, ferro e remédios, entre a República Rio-grandense (Farrapos) e países vizinhos – Uruguai e Províncias Unidas do Prata (atual Argentina).
De lá para cá muitas coisas mudaram. Tivemos altos e baixos na produção, houve a entrada de imigrantes, sobretudo alemães e italianos na cultura ancestral milenar, mas o que não mudou foi o protagonismo da região na produção da Erva-mate, sobretudo na região Alta do Vale.
Diante de todo esse destaque, sejam pelas características únicas de fatores ambientais, seja pelo saber-fazer desde os povos originários apresentado a todos os demais e rompendo gerações, temos uma Erva-mate típica, singular, com notoriedade e precisamos protegê-la e valorizá-la.
Essa proteção e valorização estamos buscando através da Indicação Geográfica da Erva-mate da Região Alta do Vale do Taquari, IG do Alto Taquari, tendo como delimitação áreas do município de Anta Gorda, Arvorezinha, Dr. Ricardo, Ilópolis, Itapuca, Fontoura Xavier e Putinga, alguns municípios com a presença de associações comerciais e industriais ativas e com associados participantes das reuniões de preparação para o documento da IG.
De acordo com o diagnóstico encomendado pelo Sebrae, a vocação da região nos posiciona para o requerimento de uma Denominação de Origem – D.O, selo conferido pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – que pressupõe que as qualidades ou características de uma determinada área geográfica, associadas aos fatores naturais e humano tipificam o produto, tornando-o diferenciado, único.
A Associação Amigos e Parceiro da Erva-mate do Polo do Alto do Vale do Taquari é a substituta processual da Indicação Geográfica do Alto Taquari, tendo na construção do documento a ser encaminhado ao INPI, o suporte do Sebrae – RS, Universidades, Entidades parceiras, como a Emater-RS e Órgãos públicos (Prefeituras e Secretarias de Estado).
Além de ajudar na manutenção das gerações no território com a valorização do produto tendo como fim o desenvolvimento territorial, a IG da Erva-mate no Alto Taquari será a primeira do nosso Vale e fará jus a importância socioeconômica, cultural e ambiental dessa planta para nossa região e para o Estado do Rio Grande do Sul.
Conheça a Ariana Maia:
Carioca, formada em Geografia pela UERJ. Professora, empresária, ex-Secretária de Turismo, Desporto e Lazer do Município de Ilópolis e Presidente da Turismate – A Festa da Erva-mate em 2013. Membro do Conselho do IBRAMATE, fundou em 2016, a Inovamate, sempre aliando pesquisa sobre a erva-mate a novos produtos. Co-fundadora da Caravana da Erva-mate, produto turístico que proporciona experiências exclusivas e inclusivas para turistas e estudiosos de todo o Brasil, que desejam conhecer as possibilidades maravilhosas que a cultura da erva-mate tem a oferecer.
Fontes: ROSA, Lilian da. SILVA, Lígia Maria Osório. Ascenção e declínio da Exportação Ervateira na Província do Rio Grande do Sul na segunda metade de 1800. Florianópolis, Geosul, v. 34, n.72, p 435-458, maio/ago. 2019.
CHRISTILLINO, Cristiano Luís. Uma riqueza nas matas meridionais: a extração da erva-mate no século XIX na província do Rio Grande do Sul. Novos Cadernos NAEA, v. 18, n. 2, p. 149-168, jun-set. 2015.