Na região, é época da colheita da uva. Nesta safra, as variedades de mesa enchem os olhos e agradam o paladar do consumidor. Nas encostas de Roca Sales, um dos maiores produtores do Vale, os parreiras estão carregados. Cachos bonitos e fartos. São as uvas de mesa que vão direto para o consumidor e outras variedades destinadas para fabricação de sucos e vinhos.
Na propriedade da família Carletto, o trabalho é intenso para tirar as frutas do pé. A principal preocupação é com as condições meteorológicas. Nas últimas semanas, choveu muito na região, e a água que fica acumulada no meio dos cachos compromete a qualidade. “A umidade racha os frutos e provoca perdas”, esclarece o agricultor Alcindo, 39.
Gelsi, 61, retira as uvas com toda paciência. Um trabalho delicado para não comprometer o visual dos cachos. “Quando corta, não pode pegar ela muita na mão porque tira o brilho. A uva fica feia e não terá presença na caixa quando chegar na indústria”, ensina.
Com dificuldades para conseguir mão de obra a família aposta no cultivo escalonado. As seis variedades têm ciclos distintos de maturação. A colheita inicia em dezembro e se estende até março. “Além de conseguir preços melhores, não dependemos da contratação de diaristas. É uma despesa a menos”, comenta Almir, 38.
Os parreirais ocupam oito hectares. As primeiras mudas foram plantadas em 2002. Na época, foi financiado um valor de R$ 18 mil para plantar um hectare de variedade bordo. A projeção de colher 180 mil quilos neste ciclo. As frutas são vendidas para uma empresa que fabrica suco de uva na Serra Gaúcha. O valor do quilo deve atingir a média de R$ 0,80.
Além da uva, a família cultiva bergamota e laranja em uma área de 2,5 hectares. Por ano são produzidos 850 caixas de 20 quilos cada. A unidade é vendida por um preço médio de R$ 19. A rentabilidade possibilitou substituir a lavoura de fumo após 14 anos.
Mudança traz desenvolvimento
Há 25 anos eram cultivados 900 hectares de fumo. Hoje a cultura ocupa apenas 25. Essa mudança é reflexo do trabalho desenvolvido pela Emater, com foco na diversificação, tendo por destaque o incentivo à produção de frutas como uva, laranja, ameixa, bergamota e goiaba. A atividade ocupa 358 hectares, 186 agricultores e uma produção de 5.119 mil toneladas por ano.
Segundo o técnico em agropecuária, Deoclésio Picolli, as boas condições meteorológicas, o relevo e proximidade com os grandes centros consumidores como a Serra Gaúcha favoreceram a queda da área destinada ao tabaco.
A vitivinicultura é destaque. São 75 famílias com 137 hectares e uma produção de 1,7 mil toneladas por safra. Muitos investem no cultivo orgânico. “O preço é o dobro da convencional. Além de extinguir o uso de agrotóxicos, conquista o cliente por oferecer um produto saudável.”
De acordo com Picolli, a colheita da uva apresenta bons resultados. O míldio, uma doença fúngica, chegou a assustar depois de dois meses com precipitações acima da média, mas foi controlada e não atrapalhará a produção. O quadro atual apresenta parreiras com carga de frutos acima da média, indicando uma safra com altas produtividades.
A única preocupação é com o baixo grau de brix das frutas destinadas às indústrias de suco e vinho, devido à ocorrência de chuvas em altos volumes.
Saiba mais
A vindima no RS deverá chegar aos 836 milhões de quilos, apontam técnicos da Emater. Na Serra Gaúcha, estima-se a colheita de 600 mil toneladas, o equivalente a 40% da produção nacional. É projetada uma produtividade de até 22 toneladas por hectare, acima da média histórica de 18 toneladas, nos 38 mil hectares plantados.
O preço mínimo da uva foi reajustado em 11% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), passando de R$ 0,63 para R$ 0,70. Em 2014, o Rio Grande do Sul produziu quase 58% da uva consumida no país.
Conforme dados da Emater Regional de Lajeado, a região tem 1,7 mil hectares de parreiras. Por ciclo são colhidas 25 milhões de toneladas de uva – 50% é destinado para a produção de sucos; 48% para a fabricação de vinhos em pequenas cantinas e 2% para consumo in natura. Dois Lajeados é o maior produtor da região. São 700 hectares. A colheita é estimada em 11 milhões de quilos. São 220 produtores.