Apenadas que participaram de oficinas de culinária receberam certificados
Um programa que se consolidou como protagonista na construção de uma sociedade menos discriminatória e mais acolhedora. Além disso, mostrou que a gastronomia pode gerar oportunidades e ser um meio de reinserção social. Isso, se tiver o apoio de instituições dispostas a quebrar paradigmas.
Nesse contexto, no dia 09 de fevereiro ocorreu a formatura das apenadas que participaram da 2ª edição do programa “Na Cozinha com a Languiru – Estabelecimentos Prisionais”. A solenidade ocorreu no Presídio Estadual Feminino Miguel Alcides Feldens, em Lajeado.
Reconhecimento, valorização e emoção
Os pronunciamentos enalteceram a condução do programa e a importância dos apoiadores. O diretor geral da Secretaria de Sistema Penal e Socioeducativo (SSPS), Pablo Rodrigues, observou que esse tipo de iniciativa transforma a vida das pessoas e da sociedade. “As pessoas ‘afinam e desafinam’ na vida. No entanto, aqui ocorre uma transformação silenciosa. Queremos multiplicar essa experiência”, afirmou.
A chefe do Departamento de Tratamento Penal (DTP), Fernanda Dias, entende que o programa faz as pessoas sonharem com dias melhores. “A aptidão e o saber profissional nos oportunizam trilhar caminhos nunca antes imaginados”, acrescentou.
Para a delegada da 8ª Região Penitenciária, Samantha Longo, o desejo de mudar de vida das pessoas impulsiona o desenvolvimento de novos projetos. Nesse sentido, adiantou que serão buscados novos parceiros. “Nós, como servidores, temos o dever de proporcionar educação, saúde e trabalho nas unidades. Não tenho dúvidas que essa oportunidade vai fazer a diferença na vida de vocês”, afirmou, dirigindo-se especialmente às apenadas.
A diretora do Presídio Estadual Feminino de Lajeado, Rita de Cássia Antocheviz, reiterou que o programa beneficia tanto as famílias das apenadas como a sociedade. “Iniciativas assim têm um grande potencial transformador na vida de mulheres que se encontram privadas de liberdade. O trabalho dignifica as pessoas”, enalteceu.
A chef Christiana Garcia enalteceu que o sistema prisional e a Cooperativa Languiru estão fazendo a sua parte. “Eu só monitorei e elas produziram. Acredito muito no potencial delas”, frisou.
O gerente executivo de Marketing, Varejo e Desenvolvimento Cooperativo da Languiru, Alexandre Marcelo Schneider, refletiu sobre o contexto do sistema prisional e ressaltou as parcerias entre iniciativa privada e poder público em projetos sociais. Sobre as oficinas de culinária, observou que o processo de aprendizado é uma construção. “A Cooperativa está contribuindo para a ressocialização destas pessoas, e isso nos gratifica.”
O cerimonial também reservou um momento de grande emoção. A ex-apenada E.V. compartilhou suas angústias e conquistas com o público. Com lágrimas nos olhos, comemorou a vaga de emprego, que conseguiu numa empresa de Lajeado. “Todo mundo quer mudar de vida e quer uma segunda chance. A saída é difícil, mas não desistam. A sociedade é de todos nós”, disse.
Também participaram da solenidade a psicóloga da Divisão de Projetos Especiais e Alternativas Penais, Rosane Lucena; os representantes da coordenação técnica da 8ª Região, Gustavo Freitas e Paula de Almeida; e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura de Lajeado, André Bücker.
O coquetel servido na formatura foi preparado pelas próprias apenadas. Os convidados puderam degustar bolos de iogurte e chocolate, bem como pasteis de frango, cujas receitas foram trabalhadas durante o curso. Para completar, cada apenada recebeu certificado atestando a formação em práticas culinárias.
O programa
A 2ª edição do programa “Na Cozinha com a Languiru – Estabelecimentos Prisionais” transcorreu durante o segundo semestre de 2022. Entre os meses de agosto e dezembro foram realizadas dez oficinas, totalizando 35 horas/aula. A chef Christiana Garcia conduziu as oficinas na cozinha industrial do Presídio Estadual Feminino Miguel Alcides Feldens. As apenadas receberam instruções de como preparar massas, salgados, bolos, sobremesas e doces gourmet. Também receberam dicas sobre modelos de preparo e manejo de utensílios domésticos. A 1ª edição ocorreu no primeiro semestre de 2022.
As oficinas de culinária objetivaram preparar as mulheres para recolocação no mercado de trabalho após o cumprimento da pena. O “Na Cozinha com a Languiru – Estabelecimentos Prisionais” remete ao Acordo de Cooperação de FPE nº 2969/2021, celebrado entre Cooperativa Languiru e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por intermédio da Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo, com a interveniência da Superintendência dos Serviços Penitenciários e Departamento de Projetos Especiais e Alternativas Penais.
Também em fevereiro, no dia 08, ocorreu a formatura do programa “Na Cozinha com a Languiru – edição Centros da Juventude – Preparando Novos Chefs”, envolvendo jovens da Vila Cruzeiro, em Porto Alegre.