Formada em Nutrição há cerca de cinco anos, a lajeadense Eliana Eckert (28) resolveu empreender. Em março do ano passado, inaugurou sua própria padaria, após fechar seu consultório nutricional. “Sempre adorei cozinhar, e a ideia da padaria já existia há muito tempo. Então, resolvi arriscar”, conta.
O empreendimento de Eliana faz parte de uma estatística que teve um grande salto no último ano: segundo dados da Central do Empreendedor, o número de empresas em Lajeado subiu de 5.080, em 2013, para 7.251, em 2014 – um crescimento de 42,7%.
Considerando a estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2014 – 77,7 mil moradores no município -, Lajeado tem uma empresa registrada para cada 10,7 habitantes. Em média, foram abertas, 5,9 novas empresas por dia, em 2014, no município. Há, ainda, outra estatística que também cresceu: a de registros de Micro Empreendedor Individual (MEI). O número subiu de 1.309, em 2013, para 1.746, em 2014 – um aumento de 33,3%.
Instalação local, foco regional
Para a economista Cíntia Agostini, o número é bastante expressivo, e não reflete a média do país. “Mas algumas coisas parecem explicáveis. O MEI, por exemplo, vem sendo trabalhado pelo Sebrae e pelo governo para que as pessoas que antes estavam na informalidade consigam se legalizar. Aquele trabalhador que antes não era atendido pelo governo, e que tem um faturamento abaixo de R$ 60 mil por ano, agora consegue prestar seus serviços de forma legal”, argumenta.
Essa perspectiva, na opinião de Cíntia, é uma das responsáveis pelo crescimento. Além disso, por ser a cidade polo do Vale do Taquari, Lajeado atrai um grande número de empresas que se instalam no município mas acabam prestando serviços para toda a região. “Lajeado é o nó principal de uma rede regional. É uma cidade que oferece escolas, qualificação profissional, atendimento a questões sociais, além de ser logisticamente privilegiada. Muitas empresas instalam-se na cidade por isso”, explica.
Central do Empreendedor
Segundo a titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (Sedei) de Lajeado, Ivanete Maria Fracaro, este índice demonstra o trabalho realizado ao longo de 2014 para a formalização dos micro e pequenos empreendedores. “E essa constatação temos aqui no dia a dia. São muitas as pessoas que vêm aqui querendo estabelecer seu negócio na cidade. Isso é resultado do trabalho de desburocratização do processo de abertura de uma empresa”, acredita.
A “desburocratização”, citada por Ivanate, é o foco da Central do Empreendedor, setor vinculado à Sedei que ajuda o futuro empresário a planejar o seu negócio de acordo com as exigências técnicas. “Acredito que a informação que é levada ao empreendedor e a facilidade para encaminhar o processo são fatores que estimulam o futuro empresário. E a Central do Empreendedor agrega tudo isso. Ela disponibiliza as informações antes de a pessoa abrir seu negócio, e ela pode falar com representantes de quatro secretarias (Meio Ambiente, Fazenda, Planejamento e Saúde) para saber o que é preciso para o seu negócio acontecer”, elucida.
“Realização de um sonho”
Ao lado do marido, Jhones Azambuja (28), Eliana gerencia a padaria que já emprega dez pessoas. “É mais fácil quando se tem o apoio do marido e da família. Mas esse primeiro ano tem sido difícil. Estamos aprendendo todos os dias. Se hoje eu fosse montar outra padaria, ela seria completamente diferente. Mas faz parte do aprendizado”, pondera. Quando idealizou o estabelecimento, o objetivo era forcar-se na linha de sanduíches naturais e bolos integrais. Isso porque a lajeadense já possuía experiência na área de alimentação saudável.
A nutricionista abriu seu primeiro empreendimento em 2011, após sair da faculdade. Na clínica nutricional que administrou por dois anos, fazia pratos para os pacientes que estavam de dieta. Mas, em 2013, fechou o local para arriscar-se em outro negócio. Quando pergunto o que a leva a continuar empreendendo, ela pensa e sorri. “É a realização de um sonho, um sonho que sei que vai adiante. Tem também a questão de querer orgulhar meus pais, a minha família. Mas é a realização pessoal, acima de tudo. É saber que aquilo em que acredito vai dar certo”, conclui.
Apoio ao empreendedorismo
Um dos principais incentivadores do empreendedorismo no país é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). De acordo com a técnica em Atendimento do Sebrae regional, Soraia Cristine Gerhardt, a entidade se propõe a estimular o espírito empreendedor e promover a competitividade e o desenvolvimento autossustentável dos pequenos negócios através de assessorias, consultorias, cursos e palestras.
“Antes de iniciar o negócio, o Sebrae orienta o empreendedor a realizar o Planejamento do Negócio, ou seja, colocar a ideia no papel. O plano é uma excelente ferramenta para verificar a sua viabilidade, analisar o investimento necessário, público-alvo, estratégias de divulgação, o diferencial competitivo – pensar como a empresa irá se destacar no mercado diante da concorrência -, custos, estimativas de receitas e outras informações relevantes para a tomada de decisão”, esclarece.
Na opinião de Cíntia, este trabalho desenvolvido pelo Sebrae tem incentivado e auxiliado as pessoas no processo de legalização de seus empreendimentos. “Por volta dos anos 2000, em todo o país, cerca de 70% das empresas eram fechadas até dois anos após sua abertura. Atualmente, este número é inferior a 30%. Os empreendedores começaram a estudar, a pensar melhor em seus futuros negócios antes de colocá-los em prática. E empreender é isso. Tem a ver com pensar na empresa antes de abri-la, com sua formação e qualificação”, enfatiza.
Saiba mais
O incentivo às micro e pequenas empresas é garantido pela Lei Complementar nº 123, de dezembro de 2006. Em Lajeado, a regra foi sancionada em 2009, e implementada em 2014, segundo Ivanete, com apoio do Sebrae e da Central do Empreendedor. Além dos incentivos já promovidos na cidade, como o Microcrédito (que oferece empréstimos a juros abaixo da tabela de mercado para micro negócios), a Sedei pretende implantar a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim).
Para isso, está negociando com a Junta Comercial do Rio Grande do Sul (Jucergs) e o Sebrae/RS. A Redesim é um sistema integrado que agiliza e desburocratiza a abertura, fechamento, alteração e legalização de empresas nas juntas comerciais brasileiras.
Serviço
O Sebrae oferece auxílio no planejamento com oficinas e consultorias:
- Oficina Elaborando um Plano de Negócios: turmas agendadas durante o ano;
- Assessoria individual em Plano de Negócios: com duração de uma hora, é realizada no Sebrae pelos técnicos de atendimento mediante agendamento de horário;
- Consultoria em Plano de Negócios: realizado pelo consultor externo, com total de 20 horas.
- O Sebrae oferece ainda soluções específicas para a gestão dos pequenos negócios, além de cursos gratuitos e disponíveis no site: www.ead.sebrae.com.br.
Dados
- Até dezembro de 2014, Lajeado possuía 7.251 empresas de todos os portes em funcionamento, um número 42,7% maior do que no ano anterior.
- A divisão de porte da empresa leva em conta seu faturamento anual. O Micro Empreendedor Individual fatura até R$ 60 mil ao ano; a micro empresa, até R$ 360 mil; e a de pequeno porte é aquela que recebe até R$ 3,6 milhões em um ano.