Sem recursos, após 100 dias da tragédia, os danos seguem sendo sentidos, contam empreendedores
Nesta quarta-feira (14), durante o Tá na Mesa promovido pela FEDERASUL, lideranças empresariais de diferentes setores econômicos do Rio Grande do Sul compartilharam suas preocupações e angústias diante da lenta recuperação do estado após 100 dias da pior tragédia climática já enfrentada pelos gaúchos. Reunidos para discutir a falta de recursos e medidas eficazes, os convidados representaram segmentos duramente afetados, como distribuição, alimentação e agronegócio.
O evento teve as falas do sócio e diretor da distribuidora Top 3, Carlos Pereira; o sócio do 360 Gastro Bar, Edemir Simonetti; o presidente do conselho de administração da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini; o produtor rural Lourenço Caneppele e o presidente do conselho de administração da Conservas Oderich, Marcos Odorico Oderich.
Na abertura do evento, o presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, reforçou a urgência de ações concretas por parte do governo federal. “Os recursos não chegam em quantidade suficiente”, criticou o presidente. Ele também convocou todos os presentes para um protesto pacífico, na sexta-feira, às 10h, colocando faixas pretas alusivas ao luto dos “100 dias sem auxílios”. “Precisamos fazer isso pelo futuro do nosso estado, pelo futuro dos nossos filhos”, afirmou, numa tentativa de sensibilizar o governo federal para escutar os apelos do RS.
Expectativa
O sócio e diretor da distribuidora Top 3, Carlos Pereira, abriu as falas destacando a falta de apoio que os empresários têm enfrentado. “Estamos à mercê de 100 dias sem apoio”, lamentou. Para ele, há uma espera crescente de que o poder público cumpra as promessas feitas no calor da tragédia. A incerteza quanto ao futuro é o que mais preocupa. “Estamos na expectativa do poder público cumprir o que foi prometido”, enfatizou. Ele também afirmou que há funcionários indo embora do município e do estado visando melhores oportunidades. A cidade da Top 3, Eldorado do Sul, foi uma das mais afetadas pelas enchentes.
Fundo perdido
O sócio do 360 Gastro Bar Edemir Simonetti, trouxe à tona a situação desesperadora do setor de gastronomia. “A situação está periclitante. Foram 50 dias parados e 50 dias sem faturamento”, relatou. Mesmo assim, ele ressaltou o esforço de manter 20 trabalhadores em atividade, embora a operação do estabelecimento tenha sido severamente comprometida. Simonetti ainda defendeu a necessidade de mais linhas de crédito com juros a fundo perdido, que seriam essenciais para a recuperação do setor.
Segundo Simonetti, feiras como a Expointer vão dar um novo fôlego para o setor de gastronomia e hotelaria da região, mas ainda não são o bastante e o acesso ao crédito é burocrático. “Me parece uma dificuldade muito grande, mas é simples. Confiram o CNPJ, o faturamento e pronto. Libera crédito para esse pessoal trabalhar”, sugeriu o empresário.
Batalha
O presidente do conselho de administração da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini, descreveu o desafio enfrentado pela indústria alimentícia desde a crise da proteína, agravada pela elevação no preço das commodities devido à guerra entre Ucrânia e Rússia, e ainda o rescaldo da pandemia. “Foram quatro enchentes e o Vale do Taquari sempre é afetado. Resiliência em manter a empresa viva tem sido a nossa maior batalha”, afirmou.
A crise energética também foi abordada, com Piccinini relatando que a empresa ficou 18 dias sem eletricidade, o que impactou profundamente a produção. O abate de frango foi reduzido pela metade, e o de suínos, em 70%.
Trabalho de gerações
O produtor rural Lourenço Caneppele, da área da agropecuária, destacou a perda total da capacidade produtiva de sua propriedade e a destruição das estruturas acumuladas por gerações. “Perdemos toda a produção. Galpão de suínos, grãos, gado… Não tenho mais nenhuma fonte de renda”, desabafou. Caneppele agora vive de favor e pontuou que 12 famílias estão na mesma situação. Ele frisou que toda a estrutura que foi construída ao longo do tempo foi arrasada pelas enchentes.
O presidente do conselho de administração da Conservas Oderich, Marcos Odorico Oderich, abordou o impacto emocional e a dificuldade de manter os trabalhadores em suas funções. “Os bons funcionários estão sendo atraídos por outras regiões. É um desafio retomar a produção”, comentou. Ele enfatizou a incerteza que paira sobre a retomada das operações. “Estamos perturbados porque não sabemos por onde começar. Foram episódios muito violentos”, disse, ao mencionar que a empresa perdeu equipamentos cruciais e afetam as entregas.
Vitrine
Antes das falas dos convidados, no espaço Vitrine, o presidente da Associação de Amigos da Oktoberfest de Igrejinha (Amifest), Egon Delmar Wallauer, subiu ao palco acompanhado das soberanas da festividade. Ele contou as dificuldades vividas pela organização do tradicional evento, que teve seu parque fortemente afetado pelas cheias. No entanto, a realização da edição da Oktoberfest deste ano está mantida.