Apesar das adversidades no clima e no solo que castigaram muitas lavouras do Estado, a fase de colheita do arroz já começou a tomar conta do dia a dia de diversos produtores no Rio Grande do Sul. Taquari não ficou para trás. Pelo contrário, foi um dos primeiros municípios gaúchos a desfrutar da safra deste ano. Segundo o engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), Marcos Antonio Bender, a esperança é de ultrapassar a marca de 7 mil kg alcançada no período de 2013/2014.
A área que está sendo colhida atualmente fica na localidade de Costa do Santa Cruz, na divisa com a cidade de Triunfo. A equipe do 28º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), com sede em General Câmara, é quem acompanha o andamento dos trabalhos. Taquari, no total, possui uma área plantada de 2,8 mil hectares. “Essa é a primeira lavoura da região do 28º Nate e uma das primeiras do Estado a começar a colher arroz da safra 2014/2015. A área foi semeada no sistema pré-germinado (plantio em solo alagado), ainda no mês de setembro”, acrescenta o engenheiro agrônomo e chefe do 28º Nate, Ricardo Machado Kroeff, que ainda conta com a colaboração do técnico do Irga Abílio Nogueira Dória.
Os arrozeiros esperam produzir mais nesta safra, como forma de driblar os altos custos de produção, mas devem ter como empecilho a pouca radiação solar registrada em janeiro. A alta umidade e o período de baixa luminosidade fazem com que os fungos assolem vários locais de plantio. Nas terras de Alex Sandro Bizarro, por exemplo, as aplicações de defensivos para controlar doenças se tornaram constantes.
Prefeitura acompanha o serviço nas propriedades
O secretário da Agricultura, Romacir Martins, e o representante da Emater, Marcos Antonio Bender, estiveram na plantação de Alex Sandro na tarde da última terça-feira, dia 3, para acompanhar o trabalho do produtor. Neste ano, o arrozeiro taquariense foi um dos primeiros a começar a colheita dentro do Rio Grande do Sul. Segundo ele, as máquinas vão seguir operando por mais algumas semanas.
Para Romacir, é importante o município incentivar culturas como essa. “Devemos estar atentos e procurar ajudar da melhor maneira possível. Além de o arroz ser um dos grãos mais consumidos no mundo inteiro, sua cadeia produtiva gera muitos empregos diretos e indiretos, principalmente no Rio Grande Sul e em Santa Catarina, que são os maiores produtores nacionais do grão”, destaca o secretário.
Muitos agricultores tiveram de retardar o plantio em decorrência das chuvas que insistiram em cair durante a estação primaveril, agravando o início da safra. Com 100 hectares de arroz cultivados em Taquari e em Triunfo, Alex Sandro, de 47 anos, tem a vantagem de não precisar de energia elétrica para irrigação. Em sua propriedade, a inundação do solo é feita por meio da gravidade, com a condução natural da água de reservatórios para lavouras localizadas em áreas mais baixas. Conforme a Federarroz, esse sistema é adotado em apenas 15% da área de arroz no Estado, por causa das limitações geográficas. A grande maioria prefere fazer uso do sistema tradicional, que dispõe de bombeadores elétricos capazes de tirar a água de reservatórios e levar até as plantações.
Em Costa do Santa Cruz, Alex Sandro começou a colheita há aproximadamente duas semanas. Na área semeada em setembro, em sistema pré-germinado, o produtor precisa colher no mínimo 130 sacas por hectare para cobrir os custos, que inclui os 20% destinados a pagar o arrendamento. “O meu risco é alto. Calculo tudo para me sobrar pelo menos R$ 900,00 por cada hectare”, conta o arrozeiro, que venderá a produção para o engenho de arroz da Cooperativa de Geração de Energia e Desenvolvimento Taquari Jacuí (Certaja). A semeadura em áreas alagadas é feita em 10% das lavouras gaúchas. No restante, o método é de plantio semidireto, feito com o solo seco.
Qualidade na lavoura, reflexo nas vendas
“Recebemos um arroz de excelente qualidade, o que mostra a competência de todos os nossos associados no cuidado com suas lavouras”, relata o supervisor administrativo da Agroindústria Certaja, Antônio Tedesco. Segundo ele, são mais de 80 produtores ativos, abrangendo principalmente Taquari, Capela de Santana, Triunfo, Montenegro, Venâncio Aires e General Câmara. “Além disso, nosso principal mercado de atuação está localizado em São Paulo, Minas Gerais e também em Belém-PA”, afirma.
Antônio explica o processo pelo qual o grão passa ao chegar até o setor de Agroindústria da cooperativa. “Antes de ir para os depósitos, secamos o produto e logo após o limpamos. Depois, damos polimento especial, que é um sistema com microasperção de água. Isso dá melhor acabamento e deixa o arroz com um visual mais atraente. É importante ressaltar que a Certaja não adiciona ou mistura qualquer tipo de conservante”, diz.
Conforme Antônio, a Certaja espera adquirir cerca de 280 mil sacas de arroz em casca. “Temos um grupo de associados que dá garantia de fornecimento com grande qualidade. Esses produtores recebem insumos da agroveterinária e, em contrapartida, pagam com o arroz. Além de Taquari, vendemos para refeitórios das cidades de Novo Hamburgo e Porto Alegre, por ser um produto de boa aceitação e de ótimo rendimento na panela”, finaliza.
“Estamos consolidados no mercado internacional”
O diretor do Irga Tiago Sarmento Barata avalia a situação do cereal e dá dicas de como as indústrias podem valorizá-lo. Com a afirmação do mercado externo para o arroz, o Brasil estabilizou o preço do grão nos últimos anos. “Estamos consolidados no mercado internacional, especialmente pela característica do cereal”, acredita.
O ano-safra do arroz, previsto para acabar em março, deverá fechar com embarque de 1,2 milhão de toneladas. Do volume de arroz exportado pelo Brasil, mais de 95% têm origem no Estado. Só o Rio Grande do Sul é responsável por mais da metade da produção nacional do grão. “As indústrias precisam buscar a valorização do produto beneficiado. O arroz não pode ser visto como o vilão da inflação”, completa Tiago.
Safra 2014/2015 no Rio Grande do Sul
Estima-se uma produção de 8,17 milhões de toneladas de arroz, o que significa uma alta de 0,7% sobre o ciclo passado. Em todo o estado, há uma área plantada de 1,11 milhão de hectares. A produtividade é de 7,3 mil quilos por hectare, o equivalente a 146 sacas. O rendimento é 0,8% maior do que a safra do ano anterior. Até dezembro de 2014, o Brasil exportou 1.068.343,2 toneladas de arroz.