Sucessivos aumentos no preço da energia elétrica e incertezas quanto ao futuro do abastecimento no país despertam líderes regionais a agilizar o plano de o Vale do Taquari se tornar autossuficiente. Mobilização coordenada pela Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT) pressiona o Estado pela liberação de nove projetos que, somados, poderão atender 350 mil habitantes.
Há um mês, representantes da entidade e da Cooperativa Certel Energia estiveram no gabinete do secretário estadual de Minas e Energia, Lucas Redecker, em busca de apoio. De acordo com o presidente da CIC-VT, Ito Lanius, a maioria dos entraves é diante da Fepam. Em alguns casos, a demora chega a oito anos. “O governo se mostra preocupado com a questão, tanto que criou uma secretaria específica para isso. Vamos juntar esforços e defender essa bandeira”, ressalta.
Estima-se a necessidade de R$ 1,5 bilhão para colocar os projetos em prática. Para Lanius, o investimento será revertido em custo-benefício. Como exemplo, cita a condição de uma energia mais barata, garantia de abastecimento estável e menor custo para manutenção das linhas de transmissão. “O governo diz estar em dificuldade financeira. Mas se conseguirmos destravar essas questões burocráticas, teremos condições de buscar investidores para os projetos.”
A CIC-VT defende que, a partir da autossuficiência, o Vale do Taquari poderá retomar o índice de crescimento. Em 2002, por exemplo, a região representava 4% do PIB gaúcho. “Hoje somos 3,43%. Muito também depende de outras questões, como infraestrutura de logística, mas o abastecimento de energia é a base para avançar.”
Para março, a entidade pretende agendar uma audiência pública na região para tratar sobre a questão. Devem participar os secretários do Meio Ambiente e o de Minas e Energia. Também as concessionárias atuantes no Vale e demais entidades de classe, como Conselho Regional do Desenvolvimento (Codevat), Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) e integrantes da Bacia Taquari-Antas.
Estado garante apoio
O secretário Redecker enaltece o empenho das entidades regionais em prol do desenvolvimento do Vale do Taquari e garante apoio ao pleito. Após a reunião de janeiro, contatou com a Secretaria do Meio Ambiente solicitando agilidade. “Há quem acredite que o governo é o responsável por tudo. Já outros, se organizam e fazem acontecer. O que o Vale está fazendo é antecipar as suas necessidades.”
Contudo adverte: “mesmo que a região produza a carga consumida, ela não estará livre de apagões”. Isto ocorre porque a energia gerada vai para o Sistema Interligado Nacional, sendo levada pelas redes de transmissão para todo o país. “Precisamos correr contra o tempo para liberar os projetos ambientais, viabilizando empresas de participar dos leilões coordenados pela Aneel”, aponta.
Líderes regionais também cobram do Estado e das concessionárias medidas capazes de evitar problemas no abastecimento, para que não volte a acontecer o que ocorreu no último verão, quando mais de meio milhão de cabeças de frango morreram por falta de energia elétrica. Redecker afirma que sua principal proposta à frente da secretaria é desenvolver o Plano Energético do RS e que vai projetar as necessidades do Estado para o futuro e traçar estratégias para atender estas demandas.
Redecker mostra preocupação com o Vale do Taquari. “Fizemos uma audiência pública no fim do ano passado em Roca Sales. Ficou bem claro a dificuldade de produtores. Estamos convocando as concessionárias e pedindo uma atenção especial quanto a isso.”
Fim dos apagões, prevê ministro
A capacidade estadual da carga de energia elétrica está próxima do limite e gera risco iminente de apagões, como aconteceu em janeiro. Na época, 11 estados e o Distrito Federal ficaram sem luz por algumas horas depois de problemas no Sistema Interligado Nacional. O principal agravante é que 70% do abastecimento no Rio Grande do Sul depende das linhas de transmissão oriundas da Região Sudeste do país que, sobrecarregadas, são incapazes de atender a demanda.
Apesar dos percalços no abastecimento, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, garante não ocorrer mais tal risco. Conforme o governo, será lançado um programa de eficiência energética para dar ainda mais segurança e robustez ao Sistema Elétrico Nacional, que deve estar pronto em até 80 dias.
Dentro do conjunto de medidas, estão em análise formas de premiar os consumidores de energia – sejam residências, fábricas, comércios e prédios públicos – que adotarem medidas de eficiência energética. O ministro reforça que tanto os consumidores públicos quanto privados serão incentivados a consumirem energia de forma mais eficiente.
Cita ações que podem ser tomadas pelo poder público, como a troca de lâmpadas dos prédios públicos por opções mais eficientes (como as LEDs) e instalação de equipamentos que desligam as luzes automaticamente quando não estão em uso, evitando desperdícios.
Horário de verão pode ser estendido
Uma das opções para diminuir o consumo de energia elétrica é ampliar o horário de verão por mais um mês. Uma reunião foi agendada pelo Ministério de Minas e Energia com representantes da Aneel e da Empresa de Pesquisa Energética para discutir se o prazo do horário diferenciado deverá ou não ser prorrogado. O encontro ocorre na próxima quinta-feira, dia 12.
O horário de verão iniciou no dia 19 de outubro nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A princípio, acabaria no dia 22 deste mês. A principal intenção da proposta é reduzir o consumo no horário de pico, registrado a partir das 18h, aproveitando melhor a luminosidade natural.
De acordo com o ministério, esta é apenas uma das alternativas que estão em estudo e não há uma predisposição em ampliar o período do horário de verão. No início deste horário de verão, a estimativa do governo era uma economia de R$ 278 milhões, com geração de energia térmica no horário de pico. Na edição anterior, a economia foi R$ 405 milhões.